Aldeia da meia-praia, ali mesmo ao pé de lagos
Vou fazer-te uma cantiga da melhor que sei e faço
De monte-gordo vieram, alguns por seu próprio pé
Um chegou de bicicleta outro foi de marcha a ré
Quando os teus olhos tropeçam no voo de uma gaivota
Em vêz de peixe vê peças de oiro caindo na lota
Quem aqui vier morar, não traga mesa nem cama
Com sete palmos de terra se constrói uma cabana
Tu trabalhas todo o ano, na lota deixam-te mudo
Chupam-te até ao tutano, levam-te o couro cabeludo
Quem dera que a gente tenha de agostinho a valentia
Para alimentar a senha de esganar a burguesia
Adeus disse a monte-gordo, nada o prende ao mal passado
Mas nada o prende ao presente se só ele é o enganado
Oito mil horas contadas laboraram a preceito
Até que veio o primeiro documento autenticado
Eram mulheres e crianças, cada um com seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra, quem diz o contrário é tolo
E se a má lingua não cessa, eu daqui vivo não saia
Pois nada apaga a nobreza dos índios da meia-praia
Foi sempre a tua figura tubarão de mil aparas
Deixas tudo á dependura quando na presa reparas
Das eleições acabadas do resultado previsto
Saiu o que tendes visto muitas obras embargadas
Mas não por vontade própria porque a luta continua
Pois é dele a sua história e o povo saiu á rua
Mandadores de alta finança fazem tudo andar p'ra traz
Dizem que o mundo só anda tendo á frente um capataz
Eram mulheres e crianças cada um com seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra, que diz o contrário é tolo
E toca de papelada no vaivém dos ministérios
Mas hão-de fugir aos berros inda a banda vai na estrada